As conquistas da nossa vida muitas vezes dependem de longos períodos de perdas e dissabores, mas, quando elas acontecem, nossa, que felicidade!
Na minha vida tudo foi fruto de muito trabalho, desde muito cedo. Me lembro de ter dez anos de idade e já trabalhar marretando na feira, nossa, que coisa antiga “marretar”, muitos nem sabem o que é isso, explico: é vender coisas sem a devida licença, no meu caso, chinelos. Minha mãe preparou um saco de farinha alvejado que eu colocava na frente de uma barraca de roupa de uma feirante vizinha e punha chinelos sobre o pano branquinho e vendia, nem sei onde minha mãe comprava aqueles chinelos artesanais para eu vender, acho que era de uma parenta que os confeccionava, foi assim que comecei minha longa carreira de trabalho.
Trabalhei também repondo mercadorias nas prateleiras em um pequeno mercado de bairro, já com 12 anos, depois entrei numa tecelagem empacotando roupinhas de bebê, fui promovida a arrematadeira (cortava linha das costuras das roupinhas), espuladeira (colocava os carretéis na máquina para encher de lã para as máquinas de tecelagem) e finalmente tecelã.
Depois disso, fui aprender corte e costura, pois era preciso fazer as roupas da família era mais barato e como irmã mais velha lá fui eu, costurei durante muitos anos pra família e pra rua toda, assim ficava em casa onde cuidava das irmãs mais novas e minha mãe se dedicava integralmente a Ana, irmã deficiente auditiva.
Quando entrei na faculdade consegui trabalhar num emprego de meio período no antigo Banco Econômico e fiquei lá até começar a dar aulas para o supletivo em uma escola particular, durante dois anos fui uma espécie de professora eventual, quando faltava o professor eu ia pra classe e perguntava aos alunos se eles estavam com alguma dificuldade em algum conteúdo e então explicava o assunto que sempre recaia na matemática, ainda bem que sempre fui boa na matéria.
Em março de 1980 comecei a dar aulas de ciências e biologia em escola pública, em 82 me efetivei, em 86 fui convidada pra ser assistente de diretor e em 88 me tornei diretora efetiva do Estado de São Paulo! Nossa, que vitória pra uma menina pobre de pai que só tem o quarto ano e mãe analfabeta.
Hoje sou uma mulher divorciada com dois filhos que valem ouro, uma garota que está no quarto ano do curso de ciência da atividade física na USP e um garoto no segundo ano de jogos digitais na Fatec, nossa que conquista!
Agora, estou em ritmo de espera, já com a liquidação de tempo publicada estou esperando um pouco pra ver se o governo acorda e melhora o nosso salário, pois sei que depois serei simplesmente uma aposentada e o salário de aposentado não aumenta nunca, não é mesmo?
Tenho o grande sonho de me aposentar e viajar, conhecer e rever lugares do Brasil, talvez alguma viagem internacional, gostaria de conhecer a minha terra, porque embora brasileira desde os quatro anos, nasci em Portugal. E quem sabe se essas serão minhas próximas conquistas?
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